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Diário de uma divorciada

Diário de uma divorciada

Política, politiqueiros e sapatos de berloques

Esta semana renunciei oficialmente ao meu cargo de membro da Assembleia de Freguesia. Recomeçaram os exames da universidade e não me sobra muito tempo nem pachorra para politiquices.
 A minha carreira de quase deputada não foi muito longa. Ainda assim, sempre deu para aprender algumas coisas: assisti a uma ou duas reuniões, andei a agitar bandeirinhas nas últimas autárquicas, angariei votos para o meu amigo candidato a presidente, calcorreei bairros pobres, emprestei a minha imagem em centenas de panfletos, participei em almoços, comícios e exposições temáticas e tive dois lugares nas mesas de votos, um deles no referendo sobre o aborto. Neste referendo pude constatar que, pelo menos na minha zona, não houve muitos homens a manifestar a sua opinião e os que apareciam vinham a reboque de uma mulher. Ah, também descobri que as pessoas só actualizam a informação dos seus cartões de eleitor quando mudam de residência e precisam de alguma declaração da Junta de Freguesia. Fora isso, nem sequer é obrigatório fazê-lo.
Geralmente, há dois tipos de pessoas que se metem na política: os politiqueiros (que querem um tacho) e os ingénuos convictos que acreditam no poder da palavra. Nos dois casos, tudo o que se tem a fazer é aprender a aperfeiçoar a retórica e a dialéctica, pois mais importante que os assuntos a debater (já agora convém ter uma pequena ideia dos problemas da região – que é também para isso que existem as campanhas de rua) é ter poder de argumentação e o último a falar, o último a fechar a discussão, a ficar por cima, é brindado com uma grande salva de palmas pela sua brilhante representação.
Mulheres há poucas nestas andanças. Deve haver uma por cada dezena de homens. Para ganhar um lugar no pódio, uma mulher tem que fazer o jogo deles, fechar os olhos à hipocrisia e aprender a dar murros na mesa, abdicando de uma boa parte da sua feminilidade. Política e saltos altos não é verso nem prosa… É assim que as coisas acontecem e será assim que continuarão, pelo menos enquanto não nos apetecer intervir a sério com um “saiam daí e deixem-nos fazer as coisas à nossa maneira que vocês não percebem nada disto!”. Antes disso acontecer, ainda teremos que passar por uma grande transformação social que nos torne mais unidas e solidárias umas com as outras. Sim, porque a hipocrisia política deles passa por um discurso acutilante que deixe o outro K.O. mas é só enquanto decorre o debate. Logo que este termina, os gajos vêm cá para fora e dão umas palmadinhas nas costas uns dos outros a que dão o nome de diplomacia e vão juntos para os comes e bebes com a sensação de dever cumprido, enquanto nós aprendemos o sentido real do velho ditado “Se não os podes vencer…”
Nã!! Decididamente, a política não é para mim; tenho mais que fazer do que ter sucessivos ataques de incredulidade.
Coragem às resistentes, que bem precisam!
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