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Diário de uma divorciada

Diário de uma divorciada

Como os empregos

Tenho um amigo, o Miguel, que tem uma teoria, no mínimo, curiosa acerca dos relacionamentos amorosos: acha ele que os relacionamentos são como os empregos. A primeira vez que o ouvi dizer tal coisa, fiquei um bocadinho de pé atrás e quase que chocada com tamanha frieza de espírito, mas não o contradisse; fiquei a ouvir, muito atentamente, as razões que poderiam tê-lo levado àquela ideia aparentemente absurda mas, no fim, surpreendi-me a concordar com ele. Pelo menos parcialmente…
 
O Miguel é um tipo cheio de jogo; vivido e "bom vivant"; tem carradas de charme e mulheres atrás dele, mas parece que não há meio de se decidir. Sim, porque não somos só nós que ficamos mais selectivas com a experiência, o problema do Miguel é que passa todo o tempo a "seleccionar".

Resumidamente, a ideia será mais ou menos assim: quando alguém se prepara para uma primeira entrevista profissional, veste-se a preceito e busca argumentar o mais favoravelmente possível de forma a tentar convencer o seu eventual empregador. Se conseguir o lugar, é deitar mãos à obra e avançar para uma carreira que, se acredita, de sucesso. De início, a pessoa vai mostrar-se o mais aplicada possível, pois está entusiasmada perante a nova perspectiva e, por isso, dá o litro para ser premiada pelo seu valor. Se passado algum tempo, não for promovida nem reconhecida, a insatisfação e a rotina começam a ganhar terreno e vai gerar-se a insatisfação. A partir deste ponto, só há duas coisas a fazer: ou se acomoda, porque afinal, os empregos estão difíceis e ali até já se está com razoáveis condições, ou parte em busca de uma nova oportunidade, seja numa empresa que lhe proporcione melhores condições, seja por conta própria.
 
Ora, quando uma pessoa se prepara para um primeiro encontro, havendo química e se o outro lhe agradar, tudo acontece quase exactamente da mesma forma: tenta-se de tudo para impressionar e, no caso de se ser aceite dá-se o enlace. Mais tarde, passada a euforia da novidade, se a relação se tornar morna e rotineira, vem a desilusão e daí à ruptura é apenas uma questão de conformismo (ou não).
 
Ora, nós sabemos que uma vida a dois não se resume exactamente a isto, que muitas das decisões que se tomam em relação a uma outra pessoa, são movidas por emoções nem sempre controláveis pelas leis da probabilidade ou da razão, mas o grande ensinamento que se pode retirar desta ideia é que não devemos nunca acomodar-nos às circunstâncias, mas antes procurar, todos os dias, surpreender e inovar, premiar e reconhecer o esforço do outro para que o entusiasmo inicial nunca se perca e o desencanto não se instale, levando-nos a procurar novas oportunidades ou a ficar apenas por ficar.
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