À espera de ti...
Eu era apenas uma miúda quando te conheci, a cabeça cheia de sonhos e a ingenuidade própria de quem acha que pode mudar o mundo. Não mudei o mundo, mas o meu mundo mudou ao cruzar-me contigo.
A porta estava destrancada, só tiveste que empurrá-la um pouco para te fazeres anunciar. Passaste por acaso (ou talvez não), mas nas minhas convicções mais profundas, tu chegaste porque te esperava (sim, porque havia muito que te chamava, mesmo sem saber quem eras). Sempre fui muito intuitiva e mal te vi chegar, reconheci-te e pronto, não foi preciso mais nada, muito menos consultar a razão. Eu acreditava em anjos, lembras-te!? Quem é que precisa de razão quando acredita em anjos!?
Prometeste-me o sol mas deixaste-me a escuridão: partiste tão depressa como chegaste, nem me deste tempo de te conhecer na realidade, não me deste sequer o tempo necessário para trancar a porta; deixaste-me à mercê… à mercê! Chorei e assim, distraída, deixei fugir os anjos.
Agora, graças a ti e ao tempo que tudo cura mas nada apaga, conquistei o estatuto de mulher madura, oficializado por um estado civil que até me protege e resolvi fechar a porta por minha auto-recriação, não por ter-me cansado de te esperar mas porque não suportava o barulho da espera… Mal sabes tu, mal sei eu que dentro de mim ainda vive aquela miúda, amordaçada pelas memórias de um sonho perfeito que todos os dias me esforço para que morra, definhado pela tua ausência.
Enfim, descobri o silêncio: o teu e o meu; um silêncio que é maior dentro de mim do que quando te calas. Os dias em que me sinto melhor sozinha estão a prolongar-se porque os encho com os meus vazios. Os meus vazios preenchem-me, dão-me espaço para ser eu e também para imaginar que ainda estás aí; que um anjo te agarrou pelos colarinhos e te trouxe de volta…
Será?