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Diário de uma divorciada

Diário de uma divorciada

À espera de ti...

 

Eu era apenas uma miúda quando te conheci, a cabeça cheia de sonhos e a ingenuidade própria de quem acha que pode mudar o mundo. Não mudei o mundo, mas o meu mundo mudou ao cruzar-me contigo.
A porta estava destrancada, só tiveste que empurrá-la um pouco para te fazeres anunciar. Passaste por acaso (ou talvez não), mas nas minhas convicções mais profundas, tu chegaste porque te esperava (sim, porque havia muito que te chamava, mesmo sem saber quem eras). Sempre fui muito intuitiva e mal te vi chegar, reconheci-te e pronto, não foi preciso mais nada, muito menos consultar a razão. Eu acreditava em anjos, lembras-te!? Quem é que precisa de razão quando acredita em anjos!?
Prometeste-me o sol mas deixaste-me a escuridão: partiste tão depressa como chegaste, nem me deste tempo de te conhecer na realidade, não me deste sequer o tempo necessário para trancar a porta; deixaste-me à mercê… à mercê! Chorei e assim, distraída, deixei fugir os anjos.
Agora, graças a ti e ao tempo que tudo cura mas nada apaga, conquistei o estatuto de mulher madura, oficializado por um estado civil que até me protege e resolvi fechar a porta por minha auto-recriação, não por ter-me cansado de te esperar mas porque não suportava o barulho da espera… Mal sabes tu, mal sei eu que dentro de mim ainda vive aquela miúda, amordaçada pelas memórias de um sonho perfeito que todos os dias me esforço para que morra, definhado pela tua ausência.
Enfim, descobri o silêncio: o teu e o meu; um silêncio que é maior dentro de mim do que quando te calas. Os dias em que me sinto melhor sozinha estão a prolongar-se porque os encho com os meus vazios. Os meus vazios preenchem-me, dão-me espaço para ser eu e também para imaginar que ainda estás aí; que um anjo te agarrou pelos colarinhos e te trouxe de volta…
Será?
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Amar de olhos abertos

Noutros tempos, uma mulher sofria um desgosto de amor e oficializava o seu estado de solteirice fechando-se num convento, a rezar e a procurar consolo nos braços imaginários de um Deus que tudo perdoa, fugindo assim ao estatuto de solteirona. Hoje em dia, continua no mercado como material em segunda mão à espera de uma nova oportunidade para sonhar e ser feliz ao lado de alguém.

 

Acerca da capacidade de uma pessoa voltar a apaixonar-se depois de enfrentar a realidade a sangue-frio, há uma questão que me assola o espírito faz tempo e para a qual nunca encontrei respostas: será a maturidade emocional compatível com o estado de paixão?
O passar do tempo, o acumular de desgostos, a experiência, levam-me a entender a minha vida como uma evolução: da insegurança da juventude à procura de um porto seguro no casamento; da decepção da convivência marital à coragem de enfrentar a família e o mundo rompendo com uma relação politicamente correcta; da dor da solidão ao estado de espírito livre de dependências, da cegueira do deslumbramento amoroso à descrença nas promessas dos homens… Não, não é que me tenha tornado amarga, não me vejo como uma pessoa amargurada, mas há muito que deixei de esperar por quem não sei. Talvez o meu padrão de exigências relativamente aos outros não esteja absurdamente inflacionado apenas porque estou mais lúcida, mas talvez seja um escudo, uma carapaça contra tentativas que, inconscientemente, considero inúteis porque nunca funcionaram comigo.
Fechada num convento, uma mulher podia ser feliz, podia encontrar a sua paz de espírito através das suas orações e esperar pacientemente pelo paraíso; fechada nela mesma e continuando a participar no mundo civil, uma mulher alimenta-se do dia, de mais um esforço, de um pouco mais de realidade, ao ponto de adquirir a capacidade de ver o cupido a atirar setas às pessoas que lhe estão próximas e sorrir maravilhada, enquanto pensa: “também já tive a minha vez”.
Quando uma mulher que já amou demais é obrigada a lutar para alcançar o seu lugar na sociedade, tem que pagar portagem: a estrada do passado é o outro lado, o que ficou para trás. Aqui, deste lado da cancela a via tem só um sentido para chegar a mim. E em mim a fé não me cega, em mim apenas a realidade e uma dúvida: será possível? Será possível uma pessoa voltar a apaixonar-se de olhos tão abertos?
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Deitar contas à vida de divorciada

 

Há momentos em que não critico as mulheres que decidem manter-se casadas por questões financeiras, especialmente quando há filhos; não as critico e até as compreendo.
A liberdade paga-se cara, a começar pelo processo de divórcio, e apesar de se apregoar muito a igualdade de oportunidades, o facto é que os nossos salários, regra geral, ainda estão muito aquém dos deles. E depois a questão dos filhos ficarem quase sempre a nosso cargo (independentemente dos motivos) não nos deixa respirar: despesas de saúde e de educação, por norma, são reembolsadas à parte do subsídio paterno (quase sempre mal estipulado e, por isso, insuficiente), o que, na prática, significa que lá estamos nós a entrar antecipadamente, qual Banco solidário porque não há juros.
Chegam-se as férias e o subsídio esfuma-se num ápice porque há sempre despesas atrasadas que convém liquidar. Enquanto os senhores vão passar férias ao Brasil ou a Ibiza, nós temos que nos contentar com a Costa da Caparica City e é porque a portagem é de borla durante o mês de Agosto.
A segurança Social dá-nos um bónus de cinco euros mensais em consideração ao facto de sermos famílias monoparentais e a seguir manda-nos um atestado com a informação de que nos enquadramos no escalão III que o mesmo é dizer que não temos direito a qualquer apoio escolar para os nossos filhos porque trabalhamos e por isso somos mais ricas que os pobrezinhos do escalão I, que mesmo com dois pares de braços e um par de cabeças aptas para levar dois salários para casa, preferem viver à conta das nossas contribuições para que os seus meninos possam ter telemóveis com GPS.
É assim e mais nada e quem se queixa é porque é má mãe.
Merda para o sistema, pá!
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Jantar do Clube!

O primeiro jantar do Fórum foi um sucesso.

 

Foi com satisfação que me dei conta de pessoas que se deslocaram do norte e sul do país para se reunirem à volta de um mesmo estado civil. De resto, havia membros que já se conheciam pessoalmente e onde se denotava uma grande cumplicidade, como se de amigos de longa data se tratassem.
O jantar estava óptimo e a noite prolongou-se madrugada fora. Foi, sem dúvida, uma experiência a repetir, da próxima vez quiçá no Norte…
Agradeço a todos os participantes e espero que se tenham divertido tanto quanto eu!
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Família pequena, grandes algazarras

 

Lá em casa vive uma bola peluda com quatro patas e um par de olhos que anda a deixar-me com os nervos em franja. Ele é pêlos por todo o lado e eu já ando cansada de passar a vida a escovar e a limpar tudo. A minha filha, que é oficialmente a dona do bichano, convive com ele como se de um irmão mais novo se tratasse: brinca, ralha-lhe e… é tudo. Obviamente que a pior parte tem que sobrar para alguém que, por exclusão de partes, vê-se logo para quem!
Já pensei dar um banho de chuveiro ao animal, mas o veterinário não aconselha; depilá-lo, para além de me parecer bastante cruel, ia deixá-lo estranhamente desfigurado.
Eis, porém, que um destes dias, ouvi alguém contar que aspirava o seu felino com aquele acessório do aspirador que é uma escova pequena, e a dizer que o bicho adorava porque sentia-se como se o estivessem a afagar.
Embora a ideia me parecesse disparatada, a tentação de um lar limpo sem muito trabalho, levou-me a querer experimentar a façanha. Fui para casa, preparei todos os apetrechos, pedi reforços à sua dona e, após nos trancarmos os três dentro da casa de banho, ligo o aspirador e aquilo que se seguiu foi uma cena digna do “Isto só vídeo“ (com bolinha): com o barulho, o gato ficou mais alterado que uma pessoa que eu cá sei quando ouve falar em casamento! Ele, que já de si é enorme, triplicou o seu tamanho em pêlos eriçados, esbugalhou os olhos e desatou a dar saltos de aflição, derrubando-me e partindo-me frascos de perfume, sabonetes e tudo o mais que se encontrava ao alcance do seu súbito ataque. E tudo isto com a minha filha, ao ver-se envolvida no meio daquele trama, a gritar a plenos pulmões.
Perante tal cenário caótico, fiquei tão atarantada que não conseguia reagir e desligar o aparelho. A cena prolongou-se por uns largos segundos.
Quando por fim, lá consegui controlar a situação, abri a porta e o pobre do bicho foi esconder-se debaixo da mesa da cozinha, até que, pouco a pouco, o seu tegumento natural foi voltando ao sítio (seja, metade agarrado à pele e outro tanto ao chão). Entretanto, tive que ir acalmar a minha filha que chorava e dizia que o seu gatinho ia ficar traumatizado para sempre…
Resultado: agora anda tudo de trombas lá em casa e eu continuo com a minha irritante actividade de “caça-aos-pêlos”.
Ainda há quem diga que uma gaja sozinha não se diverte!
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