Aventura no campismo
A Susana entra-me pela casa adentro, toda esbaforida e tão eufórica que por momentos julguei que lhe tinha saído o euromilhões e tinha escolhido a minha casa para desmaiar:
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A Susana entra-me pela casa adentro, toda esbaforida e tão eufórica que por momentos julguei que lhe tinha saído o euromilhões e tinha escolhido a minha casa para desmaiar:
Ultimamente, tenho andado tão ocupada que, com o tempo, pareço ter-me esquecido da solidão.
Esquecer a solidão, aprender a bastar-nos a nós mesmos, não sei se será um bom sinal. O sentimento de paixão surge mais facilmente quando nos sentimos carentes; quando ansiamos por um ombro onde encostar a cabeça; quando nos sentimos infelizes, incompletos. Já o amor… o amor verdadeiro não nasce de uma necessidade pessoal, mas de um impulso genético, natural, cujo interruptor é a nossa maturidade emocional.
Antigamente, a qualquer lugar onde ia, parece que só via casais felizes por todo o lado. Era uma situação que me deprimia e deixava desconfortável, era como se procurasse confirmar o facto de toda a gente estar “emparelhada” para apenas me massacrar, para me sentir ainda mais desgraçada.
Depois, veio outra fase: a fase de começar a não ver apenas os casais, mas a “olhar” para eles. E então notei que, especialmente nos casais mais velhos, elas têm um ar, no geral, mais “deslavado” e eles estão barrigudos e já não se barbeiam; ambos parecem já não ter brilho no olhar.
Agora, continuo a reparar nos casais, mas já não procuro entender se estão acomodados ou felizes. Não quero saber. E não quero saber, porque, finalmente, percebi que casar ou não casar, namorar ou não namorar… não é isso que define as pessoas. O que define as pessoas são os seus critérios de bem-estar na vida (porque falar de felicidade é mais subjectivo ainda) e a forma como batalham ou não para conseguir alcançar esse bem-estar. E esse bem-estar pode até ser comodismo. Não interessa. Cada um é dono de escolher o seu próprio caminho. E eu não preciso de mais dados externos para descobrir o que quero da vida, da minha vida.
Ainda este fim-de-semana fui a um evento sócio-familiar (chamemos-lhe assim) e reparei (é óbvio que ainda reparo) que toda a gente estava com um/uma respectivo/a. Vai daí, entreguei-me ao divertido jogo que consiste em descobrir quem-está-com-quem. E sabem o que foi mesmo surpreendente? Foi a conclusão que retirei dali: ao invés daqueles sentimentos esquisitos, dei por mim entregue à lógica do “Aqui não me safo!”.
Isto prova que a solidão não é nenhum monstro. Monstro é o uso indevido que fazemos dela.
Sabem aquela situação embaraçosa de passar por uma obra e termos que fechar os ouvidos àqueles piropos mesmo estúpidos que nos deixam sem saber se havemos de rir ou chorar? Pois ontem ouvi um novo que é o top dos tops. Chamaram-me “presunto pata negra”!
(presumo que tenha sido um elogio, senão volto lá e faço-os engolir os tijolos...).
Porque me ensinaste que o amor é livre, aprendi a amar-te na ausência e na distânca; a amar-te sem te ter para mim...
Às vezes reencontro-te na brisa que vem do mar, no sol que poisa na minha pele. Ainda na outra noite saltaste do meu copo para um olhar qualquer, um olhar perdido, tão penetrante como indecifrável. Vi-te assim, galante e bem parecido e a barba impecávelmente feita. Meti os dedos no teu cabelo e reparei que eras, de facto, tu! Aproximei-me dos teus lábios para te beijar devagar mas o teu beijo era diferente, nervoso e apressado, quase insaciável. Apertei-te contra mim para, de novo, sentir o bater descompassado do teu coração mas as tuas mãos inquietas insistiam em desenhar no meu corpo chamas ardentes, numa urgência cega e surda, indiferentes a todos os meus apelos.
E depois... depois fechei os olhos e afastei-me para deixar-te partir novamente, sem olhar para trás. Apenas por medo, muito medo de consumir-te no momento e nunca mais me apareceres. E fiquei a tecer os dias, as horas e os minutos, à espera de ver-te surgir de novo, porque sei que regressas sempre, seja sob que forma for...
Um dia, talvez não voltes a partir.