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Diário de uma divorciada

Diário de uma divorciada

Choques de estados civis

 

É incrível o tipo de sentimentos e impressões que uma mulher independente pode provocar na comunidade casada. Eis duas situações pelas quais já passei (mais do que uma vez):
 
 
1ª  - Maridos de amigas a torcer o nariz cada vez que a sua esposa combina alguma saída a solo com a sua companheira solitária (eu).
 
2ª  - Estar com um casal em que ela passa  todo o tempo colada ao respectivo ou acode a correr quando o “apanha” a conversar comigo sem  ela por perto.
 
Estou mesmo a imaginar o tipo de filmes que passarão naquelas cabecinhas: eles a achar que me tornei uma predadora libertina e a sentir medinho que isto se pegue e que eu contagie as suas fiéis companheiras; elas, como se mantêm  casadas, a imaginar que as invejo ou que tenciono roubar-lhes o papel (ou o marido) à primeira oportunidade.
 
E não, isto não é mania da perseguição. Não tenho a culpa de ser sensível às inseguranças alheias…
 
Ora, como não me preocupo em  ter que provar nada  a ninguém, muito menos pretendo fingir-me um ser assexuado apenas pelo facto de me manter livre (era o que faltava!) prefiro eleger para companhia das jantaradas e demais eventos, pessoas soltas e com as ideias limpinhas.
 
Os outros que se mantenham trancados nos seus mundinhos e deixem  o resto para quem sabe aproveitar!
 
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Mais um incentivo

O Diário de uma divorciada abre hoje uma série de reportagens que irão sendo publicadas esta semana no jornal online PORTUGAL DIÁRIO sob o tema "Divórcios Difíceis". Cliquem no link abaixo para lerem o artigo na integra e deixarem os vossos comentários:

 

http://diario.iol.pt/sociedade/divorcios-portugal-divorcios-dificeis-separacao-reportagem/955880-4071.html.

 

Os meus sinceros agradecimentos ao PORTUGAL DIÁRIO, muito especialmente, à sua sub-directora, a queridíssima Luísa Melo.

 

É mais um incentivo a juntar a muitos outros, incluíndo o vosso contributo através de comentários e e-mails, que fazem com que o Diário de uma divorciada seja, cada vez mais, um blog de referência.

 

Obrigada a todos e... muitos parabéns!

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A vida depois de ti

 

O fim do nosso casamento lançou-me para uma encruzilhada de emoções onde, durante um certo tempo, fiquei presa; exposta ao rebentar das dúvidas que me inundavam os dias, sem saber que caminho seguir, de tal forma tinha entranhado o hábito de te ver sempre presente em todo o lado. Não havia um único recanto onde tu não impusesses a tua presença com aquela tua cara fechada em que nenhum sorriso se abria, nem nenhum olhar conseguia cruzar o meu que te procurava, desorientado, ávido de um sentimento que nem sei se algum dia existiu em ti ou se apenas não tinhas capacidade de o demonstrar.  Nunca assisti a qualquer manifestação de romantismo nesse teu mundo racional demais, prático demais, onde não havia lugar para “nós” nem para o futuro. Um futuro que só poderia ser mais, muito mais do que ver-te criar raízes num vaso pequeno onde não cabiam os meus sonhos nem os meus projectos.
 
Levei algum tempo a perceber que apenas me tinha divorciado de ti e não da vida. Hoje em dia, consigo ver-me ao espelho sem o reflexo da tua imagem e reconhecer-me. Não sei se é egoísmo, mas se for, é um egoísmo saudável de alguém que conseguiu, finalmente, libertar-se. E não foi preciso assim uma grande liberdade, pelo menos não muito maior do que aquela que tinha quando vivia contigo, mas essa não era bem liberdade, era apenas um vazio crescente e sufocante de dois seres que já não tinham nada que dizer um ao outro.
 
Agora é diferente. Agora sou feliz, sabes... sinto aquela felicidade imaculada que se aprende no silêncio e na solidão. E não é bem pela tua ausência. Não se trata disso, é algo bem mais profundo: é o reencontro com a minha essência, o poder SER sem o teu consentimento ou aprovação. Um ser cujo epicentro deixou de ser o teu umbigo para passar a ser o meu nariz.
 
Não compreendes. Sabes do que se trata? Queres mesmo saber? Trata-se de conseguir realizar-me sem depender do teu humor. Agora sei que era exactamente isso que me faltava.
 
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Divórcio em Portugal/A condição da mulher

O Diário de uma divorciada lança um olhar sobre a evolução da condição da mulher no casamento, ao longo do último século (para que não pensem que o caminho tem sido fácil):

 

1910    Lei do Divórcio (Decreto de 3 de Novembro de 1910). O divórcio é admitido pela primeira vez em Portugal e é dado ao marido e à mulher o mesmo tratamento, tanto em relação aos motivos de divórcio como aos direitos sobre os filhos (1.º passo! Já não é mau de todo)
Novas leis do casamento e da filiação baseiam o casamento na igualdade. A mulher deixa de dever obediência ao marido (Não faço o jantar e não tenho medo de ninguém!)
O crime de adultério passa a ter o mesmo tratamento quando cometido por mulheres ou homens. (ah, bom!)
1933  Nova Constituição Política do Estado Novo que estabelece a igualdade dos cidadãos perante a lei, "salvas, quanto à mulher, as diferenças resultantes da sua natureza e do bem da família" (Art.º 5.º) (Mas o que é isto!? Acenam-nos com um naco de carne e atiram-nos com um osso?)
1959 A mulher portuguesa que se casa com um estrangeiro passa a poder conservar a sua nacionalidade, se o desejar. Lei n.º 2 098, de 29 de Julho de 1959 -regulamentada pelo Decreto n.º 43 090, de 27 de Julho de 1960 (Uau!! Só regalias!)
1967   Entrada em vigor do novo Código Civil. Segundo este, a família é chefiada pelo marido, a quem compete decidir em relação à vida conjugal comum e aos filhos (bolinha baixa, ok? Respeitinho ao superior hierárquico)
 1968  Lei n.º 2 137, de 26 de Dezembro de 1968, que proclama a igualdade de direitos políticos do homem e da mulher, seja qual for o seu estado civil. Em relação às eleições locais, permanecem, contudo, as desigualdades, sendo apenas eleitores das Juntas de Freguesia os chefes de família. (poder votar é uma boa razão para casar, pois claro)
1969   A mulher casada pode transpor a fronteira sem licença do marido (Decreto-Lei n.º 49 317, de 25 de Outubro de 1969). (será que nenhuma aproveitou para fugir para longe daqui!??)
1975    Alteração do artigo XXIV da Concordata, passando os casados catolicamente a poder obter o divórcio civil (Decreto-Lei n.º 187/75, de 4 de Abril). (pudera! A esta hora já não tinham fiéis)
1976      Abolido o direito do marido abrir a correspondência da mulher (Decreto- Lei n.º 474/76, de 16 de Junho) (mesmo os analfabetos?)
1978      Entrada em vigor da revisão do Código Civil (Decreto-Lei n.º 496/77, de 25 de Novembro); segundo o Direito da Família, a mulher deixa de ter estatuto de dependência para ter um estatuto de igualdade com o homem. Desaparece a figura do "chefe de família". O governo doméstico deixa de pertencer, por direito próprio, à mulher. (Festa, festa, festa!! Foguetes!! Champanhe!!!)
Deixa de haver poder marital: ambos dirigem a vida comum e cada um a sua. Os cônjuges decidem em comum qual a residência do casal. (vou dar a minha opinião, a lei permite-me...)
Marido e mulher podem acrescentar ao seu nome, no momento do casamento, até dois apelidos do outro. A mulher deixa de precisar de autorização do marido para ser comerciante. Cada um dos cônjuges pode exercer qualquer profissão ou actividade sem o consentimento do outro. (comerciante? Só se fosse para o vender a ele!!)
1981   Lei da Nacionalidade (Lei n.º 37/81, de 3 de Outubro, alterada pela Lei n.º 25/94, de 19 de Agosto): trata nos mesmos termos os indivíduos de ambos os sexos e os filhos nascidos dentro e fora do casamento (Ufa!!)

Fonte: História das mulheres em Portugal

http://www.mulheres-ps20.ipp.pt/Hist_mulheres_em_portugal.htm

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O lugar do ex

 

O casamento deixou-me com uns hábitos muito estranhos.
Não percebo porque raio é que ainda hoje, passados que são meia dúzia de anos desde o divórcio, continuo a dormir no “meu” lado da cama!? Pior: como fiquei a viver na mesma casa onde vivi enquanto estive casada, continuo a sentar-me no “meu” lugar à mesa e a ocupar, com os meus objectos pessoais, a “minha” gaveta no móvel da casa de banho.
O lugar do meu ex é no passado, ponto. Sobre isso não tenho dúvidas absolutamente nenhumas! Então porque continuo eu com este comportamento esquisito?!?
É daquelas coisas que, por mais que me esforce, não vou lá…
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A menina dança?

 

A internet é como um grande salão de baile em que se dança com os olhos vendados. A entrada é livre, basta apenas criar-se um perfil e esperar para ver o que acontece.
Cada um compõe a música à sua maneira, mas também estão disponíveis músicas já prontas que cada qual pode adoptar e usar à vontade. A aceitação da dança não é garantida nestas situações, até porque há músicas que começam a ser já muito batidas. Ele é vira o disco e toca o mesmo. Como esta:
“- Queres tomar um café?”
Eu, pessoalmente, não gosto desta música, passa em todos os instrumentos e é muito pindérica. Onde é que já se viu sair do espectáculo para ir tomar café!? E porquê café? Porque não um chá de frutos exóticos com biscoitos caseiros? Porque não um jantar num restaurante com vista para o mar e com música ao vivo? Ou porque não um cruzeiro? Sim, um cruzeiro. Então não era muito mais agradável e tentador!? Agora um café, café? Café preto?? A bebida mais acessível do mercado a seguir à água? Uma coisa que é só ligar a máquina, de manhã, lá em casa?
Café, vejam só...
Pfffft!! Falta de originalidade, pá!
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Avó Catarina

 

Tenho saudades da minha avó; dos vestidinhos e laçarotes com que ela gostava de me enfeitar ; de ajudá-la a fazer os queijos de cabra e da gaveta dos doces que eu prontamente abria, curiosa, mal entrava em casa; dos mimos…
Tenho saudades da minha avó quando está sol, do cheiro a Primavera no Alentejo, do canto das cegonhas e daquele olhar muito azul sempre a velar-me as brincadeiras: “Ana, não corras, olha que cais!” e eu ria-me muito, feliz, e corria, corria, até cair mesmo e esfolar um joelho. E depois, aflita, ia ter com ela, com os olhos rasos de lágrimas.  E ela tratava-me o arranhão e aconchegava-me ao seu colo enquanto me afagava os cabelos e me sossegava: “pronto, já passou!”.
Tenho saudades da minha avó quando chove, do cheiro a terra molhada que se misturava com o cheiro do pão, quentinho, acabado de sair do forno a lenha. E da lareira? Ai, meu Deus, que saudades daquela lareira, sempre acesa. “Ana, anda para dentro que está a chover!”
Tenho saudades da minha avó, à noite, quando me lembro de a sentir aproximar-se da minha cama a fingir que ia aconchegar-me a roupa, só para se certificar que eu respirava.
Hoje em dia, tenho que aprender a controlar a velocidade das minhas correrias, a levantar-me sozinha quando caio e a ficar à chuva porque a voz da minha avó calou-se e já ninguém me chama para ir para dentro…
E é então que, às vezes, quando me canso de ser adulta e deixo de sentir as feridas, as lágrimas e a chuva, é aí que sinto as saudades. As saudades da minha avó Catarina.
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O que é ser feliz (no amor)?

 

Ser feliz no amor é o sonho de muitos, senão de todos. Quando não se é feliz no amor acabamos por nos transformar em pessoas emocionalmente solitárias, independentemente do nosso estado civil. É-se solitário quando não se tem ao lado, alguém que seja cúmplice da nossa vida, com quem se partilhe não só o dia-a-dia mas também os anseios, as expectativas, os projectos, as preocupações, tudo.
Um pouco por culpa da nossa herança cultural e em parte também devido à nossa natural tendência para nos familiarizarmos, damos por nós, provavelmente mais vezes do que seria desejável, a culpar a solidão sentida por tudo o que nos corre mal, e colocamos numa possível relação amorosa equilibrada, a base da nossa felicidade e harmonia. Pressentido, bem lá no nosso íntimo, que o mundo seria muito mais colorido e a vida muito mais agradável se tivéssemos ao nosso lado alguém capaz de nos complementar.
Pena é que essa necessidade se manifeste, quase sempre, de uma forma muito pouco concreta…
Experimentem perguntar a uma pessoa assumidamente solitária, quais seriam os traços de carácter e personalidade da sua hipotética “alma-gémea”. Quase de certeza, ela ficará pensativa, com um ar sonhador e completamente alheado da realidade e não vos dará uma resposta objectiva. Experimentem, também, perguntar a uma pessoa insatisfeita com a sua vivência o que é que a faria feliz, e, o mais certo, é ela responder algo vago e pouco provável como “ganhar o euromilhões” ou “encontrar a pessoa ideal”.
No que respeita ao amor, talvez a chave de todos os falhanços seja precisamente o idealizar demais, sem a noção exacta daquilo que se procura, daquilo que nos faz sentir bem e realizados, daquilo que, verdadeiramente, queremos, esperamos e precisamos do outro e, principalmente do que o outro tem para nos oferecer ou está disposto a nos dar. O pior de tudo é que nos resignamos e aceitamos o facto de nunca acertarmos como sendo algo comum a toda a espécie humana, chegando ao cúmulo de arranjar desculpas feitas, em modo de sentença, tais como “o ser humano é insatisfeito por natureza” ou “ninguém é feliz com aquilo que Deus lhe deu”, etc. Tudo por não conseguirmos (ou não querermos) encarar o óbvio.
Quando não cruzamos os braços e desistimos, andamos às cegas, andamos à sorte, andamos às voltas atafulhando-nos de deveres e afazeres “porque temos que ser práticos” e acabamos por negligenciar o que é, de facto, importante.
E o importante é reconhecermo-nos sem precisar de espelhos; é sabermos o que queremos e o que nos faz felizes. Se não for assim, nunca teremos um ponto de partida para as nossas realizações e sem um ponto de partida, não há ponto de retorno e tudo o que fazemos e experimentamos acaba por cair na sarjeta da fatalidade.
Até porque quem não sabe o que procura, acaba por encontrar o que não quer...
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Manual da Mulher Resolvida (e dos homens indecisos)

Esta preciosidade veio parar-me às mãos e eu seria egoísta se não a partilhasse convosco. Com algumas pequenas adaptações feitas por mim, aqui está o que é (para que conste e não restem dúvidas):
Se ele estiver interessado, ele liga
É isso mesmo! Quando um homem está mesmo interessado, não existem projectos importantes, morte da tia ou filas de trânsito que o impeçam de te convidar para sair!
Passou-se uma semana e não tens notícias dele?
Esquece! Parte para outra! Ligar para saber se está tudo bem, é que nem pensar!!! Um homem perdido merece ser encontrado morto no seu apartamento e pelo porteiro do prédio porque os vizinhos já não aguentam o fedor a carniça…
Depois de sairem juntos ele nunca mais telefonou?
Terá sido porque lhe deste uma “abébia” ? Ou porque não lhe deste? Não interessa! Se o que ele queria era sexo e aconteceu, óptimo! Mas se não cedeste, ele provavelmente não voltou a procurar-te porque achou que ia dar muito trabalho… Seja como for, deixa de atormentar-te só porque houve sexo ou porque não houve sexo!
Duas lições:
Uma mulher armar-se em difícil depois de uma certa idade, já era! Então quando se arma em pudica é… ridículo! Além disso, acabamos sempre por nos arrepender ou de ter cedido ou de não ter cedido, por isso…
Diz não aos homens comprometidos
A relação dele está em crise? Azar! Só lhe falta oficializar o fim? Boa! Se ele quiser continuar infeliz, o problema é dele. Senão, ele que acabe com a relação de vez e depois que te procure, combinado?
Ouviste aquela clássica do "tu és boa demais para mim?"
Acredita, amiga! És mesmo! Livra-te do cidadão e deixa de te armar em Madre Teresa de Calcutá.
Não tentar...
Não vale a pena namorar com um tipo pelo qual não se sente o mínimo de admiração!
Traição
Não continues com um gajo que já te encornou: ninguém aguenta ser traída duas vezes. Mantêm-te atenta se ele já foi infiel a outras. Uma pessoa acha sempre que connosco vai ser diferente, mas é mentira! Nunca é!
E atenção: o que há mais por aí são homens!
Pior do que nunca encontrar o homem certo é viver para sempre com o errado!
O nosso lema a partir de hoje:
Homem que não dá assistência, abre concorrência e perde a preferência!”
Ah, pois é!!!
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Filhos do Divórcio

Para além de ser uma mãe divorciada também eu sou filha de pais separados, o que  já me dá uma certa legitimidade para falar sobre o assunto.
Tinha menos de três anos de idade quando o meu pai resolveu sair de casa. Nos anos 70 a taxa de divórcios era bastante baixa relativamente aos dias de hoje e, normalmente, eram os homens que tomavam a iniciativa, quase sempre pelo mesmo motivo: outra mulher, o que levava a legítima e os seus rebentos a terem que carregar o rótulo de abandonados, um rótulo que pesava ainda mais quando se vivia num meio pequeno, como era o meu caso.
A data de 19 de Março era a mais difícil de todas. Na escola, todos os meus colegas preparavam um presente para oferecer ao pai e eu, para não ficar a olhar, fazia um para a minha mãe (ninguém me perguntava nada porque se me perguntassem eu preferiria fazer um para o meu pai ainda que não lhe o pudesse entregar).
O meu pai fez-me sempre muita falta. Chorei muitas vezes de noite e esperei por ele durante toda a vida, uma espera inútil porque ele nunca chegou e eu fiquei a sentir na pele o que é ser órfã de um pai vivo.
Por causa deste meu passado, a minha decisão de divorciar-me foi um grande pesadelo; não queria que a minha filha passasse pelo que eu passara. Só que as pessoas crescem e eu cresci e tomei consciência que os tempos mudam,  que as pessoas mudam e que as situações não são todas iguais. Por outro lado, é preferível uma criança ter os pais um para cada lado do que viver no seio de um ambiente contaminado com brigas e desentendimentos. O problema é que nunca se sabe até que ponto uma criança consegue interiorizar isto.
A lei actual está feita de forma a que os filhos, em caso de divórcio, fiquem a viver com a mãe e que passem fins-de-semana alternados com o pai. Feitas as contas são 48 dias anuais de convivência com o pai contra 317 dias com a mãe. Será isto justo e vantajoso para os menores? Provavelmente não, mas pior, muito pior que a provável injustiça da lei é que o tribunal não tem poderes para obrigar um pai a passar mais tempo com os filhos e, se é verdade que muitos sentirão revolta e impotência face à forma como a lei está feita, ainda há uma grande parte que tira proveito dessa lacuna judicial. De 15 em 15 dias vão buscar os filhos, domingo à noite despedem-se, entregam-nos às mães e retomam as suas rotinas diárias, interrompidas por aqueles visitantes ocasionais. Cumprem assim a lei como se ao cumprirem a lei estivessem a cumprir o seu papel de pais, como se fosse possível ser pai em part-time; como se fosse possível ser-se um pai por inteiro quando só se vê o filho de 15 em 15 dias, mas muitos acham que sim e, para esses, ainda que a lei mude, para eles nada mudará, porque jamais será possível criar uma lei que regulamente consciências… para mal de muitas das nossas crianças.
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