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Diário de uma divorciada

Diário de uma divorciada

Liberdade

Uma pessoa separa-se para ter independência depois descobre que a liberdade não é assim uma amiga que se encontre ao virar da esquina logo após o papel passado. É preciso muita luta, muita guerra, muita persistência, muito cair e levantar, muita teimosia...
Um dia li algures que “liberdade quer dizer responsabilidade é por isso que muita gente tem medo dela”.
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Amar em part-time

Namorar já não é o que era. Pelo menos tratando-se de mâes a solo.
Entre birras e mimos, lá arranjamos um “furo” num ou noutro fim de semana com sabor a pouco...  
Giro, giro é ouvi-los dizer: “o namorado da minha mãe é fixe” – é muuuito à frente!!
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Amar o Amor

O amor... de novo e ainda o amor... já o encontrei, por vezes passo por ele, ele sorri-me e eu nem tento agarrá-lo, precisamente porque o amor é livre, às vezes até pode ter “cara de lixo” como diz a Adriana Calcanhoto, mas não deixa de ser livre, é assim como o sol que não consegues agarrar e ainda que conseguisses não poderias, porque queima; e é assim como uma planta bonita que morre pelas mãos de quem a arranca do solo... Ai, o amor, o amor... o amor é a melhor forma de arte abstracta que existe.
Já percorri muitos caminhos, conversei com muita gente, perguntei ao vento, ao céu e ao mar que me contassem esse segredo tão bem guardado e a resposta que obtive foi sempre a mesma: o amor não se tem, sente-se... o amor és tu, sou eu... o amor é a vida.
Seria incapaz de conceber o mundo sem amor, mas por vezes, ainda que não possa escapar-lhe por tê-lo dentro de mim, ignoro-o, maltrato-o, tenho-lhe tanta raiva!!!! Frases como “tens um olhar meigo”; és muito bonita” ou simplesmente “és tão querida” deixam-me louca de ira!! É que as palavras doces provocam-me a ilusão de pendurar um quadro clandestino na parede invisível do tempo e assim sou obrigada a decorar a minha eternidade com as cores que outros escolheram...
 
É curioso como as pessoas mudam. Há uns anos atrás, quando ainda não tinha aprendido a amar o amor, costumava esconder-me, fugir de tudo aquilo que me emocionava; achava impossível gerir as emoções que os outros me provocavam; nesse tempo o mundo à minha volta era uma enorme floresta medonha cheia de olhares arregalados, bocas enormes e famintas à espera que eu me distraísse para ser reduzida a um farrapo de gente...até que aprendi “o momento” (aquele em que ou viramos as costas ou avançamos) e por detrás do momento um truque: encher até meio de entulho sentimental o poço das minhas inseguranças e olhar nos olhos dos predadores de sonhos dizendo: “Quem és tu? O lobo mau? Hmmm... o lobo mau não podes ser, que esse devorei-o inteirinho há uns tempos atrás!”...
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Comprometimentos

Os amores mornos nunca me entusiasmaram. Sou mais pelas paixões escaldantes e irracionais, daquelas que nos fazem querer deitar tudo às urtigas e desaparecer com o objecto da nossa paixão para o outro lado do mundo em estado de pura inconsciência.
A questão é que nunca fui muito fácil de seduzir. E, modéstia à parte, não tem sido por falta de pretendentes, não senhor!
O Vitinho foi o primeiro menino a pedir-me namoro tinha eu uns oito anos e ele outros tantos. De mochila às costas, seguia-me até meio caminho de casa sempre com a mesma pergunta pronunciada com a sua vozinha tímida: “queres namorar comigo?”. Oferecia-me flores que apanhava no pátio da escola e todos os dias ouvia a mesma resposta: “vou pensar”. Na verdade, eu só estava a ganhar tempo para ver se acabava por apetecer-me andar com ele de mãos dadas, mas nada.
Ainda há pouco o vi abraçado à sua actual mulher a passear num centro comercial e fiquei enternecida.
 

Houve um bloguista muito conceituado que escreveu algures “eu não sou casável”, pois eu tenho a dizer que “eu não sou muito seduzível”. Tenho pena, mas não posso fazer nada, é uma questão que ultrapassa os meandros do racional. À falta de paixão, o meu futuro será mesmo ficar para tia, mas pelo menos serei uma tia apaixonada

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Emoção vs Solidão

Tenho a cabeça na lua e não consigo parar de sorrir..
Tudo é diferente, tudo é mágico...
 
Fecha os olhos! Abraça-me!
Sentes, não sentes?
É como um carrossel...
 
Não quero saber do fim,
Não quero saber do que vem a seguir,
O que me importa é este vácuo no peito
Ter o mundo todo cá dentro tendo-te só a ti.
 
Espera...
Estão a passar a nossa música outra vez.
A voz que canta esta canção é a voz de um anjo
(A nossa banda sonora é só nossa, e é cantada por um anjo!)
 
Suspensa neste fio de eternidade, a vida cabe toda na palma da minha mão,
 
Que me importa o resto,
E que me importa a morte,
Se estou a morrer feliz!?
 
O telefone toca e eu adivinho que és tu
O coração pára uns segundos (Só até ouvir a tua voz)
E depois dispara...
 
Estou louca (viva!)...Eu estou louca!
 
Quem me dera que o tempo parasse neste momento
Contigo e comigo lá dentro
 ...
A loucura permanente não é compatível com a realidade,
A paixão é uma droga. Sei-o eu, sabe-lo tu
(Ambos sabemos porque já fomos cúmplices)
 
E, no entanto...
Depois de passado o efeito,
Queremos mais...
 
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Desencaixotar a vida

A nova casa é praticamente perfeita. As suas duas frentes estratégicas parecem representar os dois estados de alma com que ora me ligo à terra, ora me lanço num voo contínuo às minhas memórias. Escolhi o branco e os espelhos para decorar quase todos os seus aposentos. Apenas o quarto pequeno com vista para o mar permanece nas sombras com a minha colecção de cactos todos enfileirados no parapeito da varanda. De espinhos afiados que parecem desafiar a paz que constantemente procuro perto do teu sorriso. Na prateleira à direita da minha mesa de trabalho, emoldurada a azul, uma das fotos que tiramos ao por do sol nas nossas últimas férias, na Martinica. Após admirá-la uns segundos, fecho os olhos e vêem-me à memória os perfumes e sons do Caribe, a brisa morna agitando suavemente os coqueiros e novamente o teu sorriso. Um sorriso que por mais que tente esconder, encaixotar no sótão da nova casa, teima sempre e sempre em ser o mar a perder de vista ou alguns espinhos dos cactos que insistem em não seguir a ordem do seu crescimento natural, solidários com a minha realidade.
Por vezes surpreendes-me na noite, quando sinto o frio dos lençóis cobrir a nudez da minha pele; sonho que ainda estás ali a meu lado e amanheço com o suave sabor da eternidade da tua presença. Outras vezes, é a chuva que compõe a melodia da tua lembrança num compasso divino que me faz viajar até aquele momento perfeito em que pegaste na minha mão e a encostaste ao teu peito para que sentisse o teu coração. Mas é na sala cheia de sol que costumo encontrar-te. Cada recanto deste meu recomeço está banhado por essa mesma luz com que me contemplas todas as manhãs ao acordar; é aqui que me refugio quando me faltam as forças necessárias para continuar e é aqui que o meu futuro deixa de ser uma estrela num infinito impossível de alcançar e se transforma na tua voz quente e terna transportada pelo regresso da doçura das tuas palavras sempre que comparavas o nosso amor ao mais belo jardim do mundo.
A cor branca e os espelhos encaixam-se perfeitamente neste meu cenário construído à tua medida, tal como se encaixavam os nossos corpos cada vez que o desejo se transformava num Íman a querer unir as nossas almas. É a partir desta sala ensolarada que te partilho com o mundo de cada vez que tranco a porta da nova casa para iniciar mais um dia de trabalho e te levo bem juntinho ao meu coração. Escondido, como se não tivesse importância nenhuma o facto de escancarares todas as janelas e portas da minha existência para reavivar a certeza do nosso reencontro.
Ao mudar de casa julguei conseguir esquecer o que era mesmo importante. E importante é reconhecer que a nossa vida é um puzzle gigante com uma peça central à espera que coloquemos as mais pequenas à volta. A partir do momento em que conseguimos descobrir a nossa peça central, construir o restante puzzle torna-se uma brincadeira de crianças. Crianças essas que, para mim, serão as peças mais pequeninas que encherão de vida e cor esta nova casa para complementar o branco e os espelhos do teu sorriso. É por isso que persisto no optimismo desta minha jornada usando a força da tua lembrança para prosseguir. E é também por isso que, de vez em quando, subo ao sótão para desencaixotar a tua vontade de me ver caminhar sempre em frente, ignorando, talvez, que em frente é o caminho certo que percorro diariamente em direcção a ti.
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Amor Virtual

Ao conhecer-te expandi-me para além do meu ser e descobri assim, uma nova forma de amor. Um amor entre o físico e o espiritual; um amor livre de espaço, tempo e matéria: um amor virtual.
Foi através da tua ausência que aprendi a conhecer-me melhor ao conhecer-te. Contigo aprendi a amar incondicionalmente, a ser paciente e a saber mais acerca dos meus próprios limites.
Através das teclas cinzentas e frias partilhei contigo os meus sonhos, derramei os meus medos, aprendi a exprimir-me para além dos gestos e do tom de voz; chorei sem pranto e enxuguei as tuas lágrimas sem precisar de lenço; recebi os teus mimos sem o teu toque, afaguei-te o peito e fiz-te sentir o quanto te queria bem através dos teus olhos. Por ti senti desejo, ciúme e senti-os tornarem-se ridículos; aprendi a confiar nas tuas palavras apenas por intuição; senti a tua falta e conformei-me e nesse conformismo aprendi que, afinal, não nos pertencemos.
 
Hoje em dia continuas a ser um amor sem rosto e sem corpo; sem passado nem futuro; um amor que apenas permanece; um amor livre, tão livre que não tem tempo.
Nunca nos pertencemos, mas já voamos juntos, e a partir do momento em que nos partilhamos tornamo-nos um do outro e isso, jamais, nada nem ninguém poderá apagar, nem o que de ti em mim ficou nem aquilo que de mim te tornaste.
 
Bem hajas, meu querido e doce amor, bem hajas como o meu desejo que continues a aparecer sempre na minha vida, seja sob que forma for.
 
 
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